Por Martha Funke Depois de deixar para trás uma fase de testes e experimentações, a computação em nuvem movimenta negócios com crescimento médio anual de 20% no Brasil. Só no modelo público, os gastos com software, plataformas e infraestrutura fornecidos como serviço (respectivamente, SaaS, PaaS e IaaS), além de serviços de gerenciamento e segurança, podem ultrapassar os R$ 3,5 bilhões em 2017, de acordo com o Gartner.

O ritmo deve se manter pelos próximos anos com evolução no modelo de uso, bem além da adoção de soluções de e-mail e colaboração e servidores virtuais característicos da primeira onda. Hoje o perfil de utilização é híbrido e envolve múltiplas nuvens, camadas e aplicações conversando entre si.

O potencial do mercado atraiu a atenção dos grandes fornecedores mundiais de nuvem, entre eles AWS, Google, Microsoft, IBM, Oracle, SAP e Salesforce, com portfólios cada vez mais avançados. O movimento levou fornecedores locais a readequar a oferta inicial. A ideia de prestar serviços parecidos com os de gigantes mundiais baseados em suas próprias nuvens ficou para trás.

Os portfólios foram enriquecidos com serviços de aquisição e provisionamento de nuvens de terceiros (brokerage) e gestão de nuvem (CSM, na sigla em inglês), com atividades como consultoria.

A demanda estimula a movimentação dos fornecedores. Neste mês, o Google lançou oficialmente sua região de Google Cloud em São Paulo, a primeira da América do Sul, com três zonas. A localização, a cobrança em reais e a redução de latência de até 95% derrubam barreiras relacionadas a marcos legais que impedem a localização de dados fora do país, pagamentos em dólar, taxações múltiplas e lentidão.

A Huawei, parceira da Vivo no Brasil, divulgou meta de estar ente as cinco líderes mundiais em infraestrutura como serviço (IaaS) por meio de modelo federativo apoiado em operadoras de telecom de mercados em desenvolvimento. A Oi, por sua vez, incorpora perfil híbrido e passa a participar da comunidade Cloud28+, da HPE, que reúne empresas e um marketplace de soluções para nuvem e em breve integrará federação de nuvens que hoje disponibiliza serviços em 14 datacenters no mundo.

O grupo Globalweb, especializado em serviços como fábrica de software e outsourcing, com faturamento anual de R$ 280 milhões, criou a Globalweb Cloud para atuar no fornecimento e gerenciamento de diferentes nuvens e camadas, com acordos com empresas de nuvem pública, segurança e gestão multinuvem, entre outras. Vai ocupar uma das doze salas do recéminaugurado datacenter da Odata para oferecer infraestrutura em nuvem própria e de terceiros. “Queremos ter link de satélite em vários Estados, principalmente no Nordeste”, diz Cristina Boner, CEO da empresa.

Fusões e aquisições também reforçam a presença e a competência das fornecedoras, embora o Brasil mantenha perfil de pulverização e esteja longe do ponto de consolidação atingido por mercados maduros. “Ainda veremos o surgimento de novos players”, diz Pietro Dalai, gerente de consultoria e pesquisa de infraestrutura e telecom da IDC Brasil.

No ano passado, UOL Diveo e Tivit compraram especialistas em nuvem, respectivamente Dualtec e OneCloud, passando a atuar como brokers e prestadores de serviços sofisticados de gerenciamento de nuvens próprias e de terceiros. Na Tivit, a iniciativa colaborou para os serviços de nuvem alcançarem 16% da receita líquida de R$ 1,4 bilhão de 2016.

A chilena Sonda adquiriu 60% da Ativas, empresa de datacenter e nuvem da Cemig e da Asamar.

Em fevereiro, lançou a plataforma Cloud Premium para permitir a adição automática de recursos pelos clientes. A europeia Claranet, com operação em oito países, 43 datacenters e faturamento de US$ 420 milhões, chegou ao Brasil com compra da Credibilit, especialista em serviços gerenciados e nuvem. “É a primeira operação fora da Europa”, diz Renato Solino, gerente de marketing e negócios.

Este ano, a Logicalis absorveu a Nubeliu, especialista na plataforma de nuvem de código aberto OpenStack. “Como o paradigma será a nuvem híbrida, o software livre pode ajudar as contratantes a não ficarem reféns de provedores de softwares e plataformas”, afirma o CEO Rodrigo Parreira. Segundo a pesquisa anual da empresa com CIOs, Brasil IT Snapshot, entre 2013 e 2016 a penetração da nuvem híbrida passou de 19% a 40%.

A Mandic, por sua vez, acrescentou oferta de nuvem privada e da AWS à sua nuvem pública com tecnologia própria e ficou com a carteira de 200 clientes de nuvem da Ascenty, agora concentrada em datacenter e conexão. “A expectativa é de mais uma aquisição este ano e outra em 2018. Há oportunidades no mercado”, adianta o CEO Maurício Cascão.

Com a tendência de adoção de modelo híbrido e multinuvem, no cenário atual ganham destaque ferramentas e processos automatizados para otimizar o uso das diversas nuvens. As funcionalidades incluem de comparadores de preços a orquestração automática de cargas de trabalho em busca de economia e regras de armazenamento. Também cresce o número de componentes ofertados pelos fornecedores para o desenvolvimento de aplicações como inteligência artificial e internet das coisas – só para citar alguns exemplos de tecnologias que, sem o poder de armazenagem e processamento em nuvem, são praticamente inviáveis.

A motivação, por sua vez, deixa de ter foco principal em redução de custos. “As demandas das empresas hoje rumo à nuvem são por agilidade, eficiência e inteligência”, diz o líder de tecnologia da Accenture, Ricardo Chisman. Para Fábio Pereira, diretor da Deloitte, a digitalização das operações é o grande propulsor. “Negócios digitais precisam testar rápido para criar modelo. Não dá para aguardar a compra de equipamentos”, acrescenta. Mais que a migração de legados, os comportamentos estimulam a criação de aplicações nativas em nuvem.

Pesquisa da Unisys com 400 executivos de TI confirma a tendência. Por aqui os motores são a busca de maior agilidade e inovação nos negócios, entre outros.

 

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